Carta aberta sobre a repressão do movimento democrático e as detenções de 18 de maio de 2024 na Guiné-Bissau à Embaixada da Guiné-Bissau em Bruxelas

Embaixador Hélder Jorge Vaz Gomes Lopes
Boulevard Brand Whitlock 114
Woluwe-Saint-Lambert
1200 Bruxelles, Belgien

Hamburgo, 19 de maio de 2024

Excelência,


por ocasião do centésimo aniversário de Amílcar Cabral, reuniram-se em Hamburgo no fim de semana de
Pentecostes (18/19 de maio de 2024) a Amílcar Cabral Gesellschaft e.V., a Associação Guineense e Amigos
da Guiné-Bissau em Hamburgo (AGAGBH) e representantes da diáspora guineense na Europa para discutir
o significado de Cabral no debate político actual.
Simultaneamente, a 18 de maio, realizaram-se manifestações em toda a Guiné-Bissau contra a dissolução
inconstitucional do parlamento em dezembro de 2023, por Úmaro Sissocó Embaló, presidente de facto, e
em defesa de um Estado de Direito democrático.
Desde o final de 2023, um movimento democrático, não partidário, tem vindo a fazer campanha em Bissau
com eventos e manifestações a favor da restauração das instituições democráticas, que são repetidamente
reprimidas pela violência policial.
Em fevereiro de 2024, muitas organizações da sociedade civil juntaram forças na FRENTE POPULAR, que
também está agora a convocar manifestações em todo o país.
Na nossa reunião em Hamburgo, ficámos chocados ao ver as imagens que documentam a acção violenta e
brutal da polícia contra os manifestantes. Foram efectuadas numerosas detenções arbitrárias. Mais de 50
jovens foram detidos ilegalmente.
Os organizadores das manifestações foram detidos, nomeadamente:
Dr. Armando Lona, presidente da FRENTE POPULAR,
Mansata Monica Silá, Associação Juvenil para Promoção e Defesa dos Direitos Humanos (AJPDH),
Beto Oliveira Lopes, Bastonário da ordem das enfermeiras e dos enfermeiros,
e Djibril Bodjan, representante regional da FRENTE POPULAR – região de Gabú, que foi detido durante uma
conferência de imprensa.
Exigimos a libertação imediata das pessoas detidas ilegalmente!
Apoiamos as reivindicações dos manifestantes que exigem o fim do bloqueio do parlamento e de todos os
trabalhos parlamentares por parte de Úmaro Sissocó Embaló.
Exigimos a garantia do direito à liberdade de expressão e ao livre trabalho jornalístico na Guiné-Bissau.
A nosso ver, não é por acaso que as forças anti-democráticas da Guiné-Bissau querem impedir a
continuação das ideias políticas de Amílcar Cabral, precisamente neste ano em que comemoramos o seu
centésimo aniversário.


Antje Kurz, Associação Amílcar Cabral e.V. (ACG)
Mali Seidi, Associação Guineense e Amigos da Guiné-Bissau em Hamburgo (AGAGBH)
Abdulai Keita, Associação Solidariedade Guiné-Bissau / Suiça